top of page

O cérebro e o viés cognitivo

  • Foto do escritor: Caroline Cabral
    Caroline Cabral
  • 21 de fev. de 2021
  • 4 min de leitura

Já parou pra pensar porque a humanidade sempre teve dificuldades para lidar com a imensa pluralidade de sua própria existência? Se você está aqui lendo esse conteúdo, isso já é um ótimo sinal para começarmos a entender o fenômeno e principalmente, a lidarmos com ele!

Primeiro vamos entender o que o cérebro tem haver com isso...

O complexo funcionamento da nossa “central de comando”


Somos organismos extremamente complexos, e arrisco a dizer que ainda temos muito a entender sobre nós mesmo, porém hoje temos acesso a conteúdos que já entregam um volume considerável de informações sobre esse tema, e em especial, o funcionamento do órgão que concentra toda nossa “essência” humana, sim ele mesmo: O cérebro.


Segundo Luiz Antônio Garcia, em seu livro “O cérebro de alta performance”, nosso cérebro é responsável pelas habilidades de racionalidade e intuição, e para gerá-las esse órgão conta com várias estruturas que se desenvolveram em nossa história evolutiva chegando a um alto nível de complexidade.


Ainda segundo esse mesmo autor, cada neurônio humano está ligado a outros 10 mil neurônios e consegue receber 10 mil mensagens ao mesmo tempo, gerando assim uma conclusão a partir disso e, por sua vez, comunicando essa conclusão a outros 10 mil neurônios. Em média, estima-se 100 trilhões de sinapses (conexões) entre eles!


Beleza! Mas o que isso quer dizer? Vamos fazer uma comparação mais atual para ficar claro o que essas informações nos dizem... A capacidade de processamento do seu cérebro pode ser comparada a 564 CPUs que tenham um processador Intel Core I7.


É com esse tipo de velocidade que você esta processando tudo o que está aqui nesse artigo e ainda mais um monte de coisas que estão a sua volta ...



A nossa organização interna constrói nossa “janela para o mundo”


Sabemos que nosso cérebro tem uma capacidade fantástica de absorver essas informações, mas será que damos conta de organizar tudo isso de maneira consciente?

Bom, a resposta pra isso é não...


Sendo assim, o que acontece é que todo esse volume de dados que chega aos nossos neurônios precisa ser organizado de alguma forma, e isso acaba acontecendo “atrás dos bastidores”. Isso significa que você acaba assimilando informações de maneira inconsciente, Freud fala sobre essa assimilação inconsciente em sua obra “A interpretação dos sonhos”, onde acusa essa assimilação através da análise dos conteúdos de sonhos.


Se eu ainda não te convenci sobre isso, você pode entender um pouco melhor sobre esse tema assistindo esse vídeo do pesquisador Dan Ariely .



A partir daí, existe uma discussão sobre como nosso cérebro cria padrões para sistematizar o mundo ao nosso redor, levando em vários casos a comportamentos injustos e precipitados. Como por exemplo, o comportamento que será citado mais a diante sobre ter preferência em trabalhar com pessoas mais jovens.


Dessa forma explicamos um dos fenômenos mais importantes para entender como as pessoas tendem a lidar com o tema diversidade. Fenômeno esse que pode ser citado de duas formas: Viés inconsciente ou viés cognitivo.


Viés inconsciente e viés cognitivo: afinal, é a mesma coisa?


Sim! Porém existe certa confusão de termos que é importante citarmos.


A palavra inconsciente está ligada a teoria Psicanalítica criada pelo médico alemão Sigmund Freud, ela pressupõe a existência de uma instância psíquica que tem seu funcionamento totalmente desprendido do nosso controle e percepção, contando com processos e funções específicas que também foram estudadas por Freud e até hoje são objetos de estudo para os(as) psicanalistas que dão sequência ao seu trabalho.


Por sua vez, a palavra cognição remete ao processo mental de absorção e assimilação de conhecimento (informações de todos os tipos). É um termo muito utilizado nas neurociências e também em algumas vertentes da Psicologia como a terapia cognitiva comportamental. É o processo mental responsável pela linguagem, memória, pensamento, raciocínio, percepção e etc.


Quando estamos falando sobre o processo de captação de assimilação de informações e a forma com que o cérebro humano as organiza, impactando nossa forma de lidar com a diversidade, o mais correto é utilizar então o termo viés cognitivo, porque é ele que está se referindo a todo esse processo que foi explicado na primeira parte do artigo.


Um relato desses conceitos na prática.


Apesar de os termos “inconsciente” e “cognição” não estarem diretamente ligados, é possível extrair contribuições que correlacionem às duas visões.


Para ilustrar isso, o capítulo 4 do livro “O inconsciente na sua vida profissional”, traz a história da Maria Eduarda (nome fictício), uma executiva de alto nível que, ao receber um feedback sobre seu estilo de liderança, que privilegiava mulheres mais jovens em detrimento a mulheres mais velhas, resolve buscar apoio para entender porquê estava sendo vista dessa forma pelas outras pessoas, uma vez que NÃO se percebia dessa forma.


Durante a narrativa, percebeu-se que as causas estavam totalmente inconscientes a ela: tratava-se de um trauma do passado. Sua mãe, também uma executiva de alto nível havia falecido aos 37 anos de idade, quando Maria Eduarda tinha apenas 10 anos de idade, por causa disso, ela não havia tido a oportunidade de se relacionar com a “mãe mais velha”, e guardava carinhosamente a imagem da “mãe jovem”.


A forma com que o psiquismo dela se organiza para lidar com o trauma é algo possível de ser pensado através do conceito de inconsciente (recalque), já a forma com que a cognição dela organiza a informação e “cria” um grupo de preferência por mulheres jovens, sem que necessariamente ele pense ou queria se comportar dessa forma, pode ser explicado pelo viés cognitivo.


Ter ciência desse processo e entender como ele acontecia foi fundamental para que Maria Eduarda conseguisse se perceber e se reaver com suas próprias questões, evitando então de manter aquele estilo de liderança que apesar de NÃO intencional, causava danos aos outros.


Demos o primeiro passo...


Bom, para fechar essa etapa do aprendizado, é interessante ressaltar que apesar de estarmos sob ação de vários processos que nos fogem ao controle, o ser humano em toda a sua complexidade, conta com a maravilhosa capacidade de se auto criticar e de se reorganizar de maneiras totalmente diferentes. E baseados nessa forte crença então que iniciamos a jornada em entender de forma mais profunda a tão citada e necessária causa da diversidade!


Referências:

  • https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/intersecoes/article/view/26570/19100

  • https://blog.cognitivo.com/significado-de-cognitivo/

  • https://12min.com/br/o-cerebro-de-alta-performance-resumo

  • https://www.psicologosberrini.com.br/terapia-cognitivo-comportamental/

  • https://www.tecmundo.com.br/ciencia/16846-cerebro-humano-x-pc-como-eles-se-comparam-.htm

  • GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. Zahar, 1987. Acesso em 13 de Fevereiro de 2021. > https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=NplMKSjlo5AC&oi=fnd&pg=PA139&dq=a+defini%C3%A7%C3%A3o+freudiana+de+psican%C3%A1lise&ots=5T6J9SrY5C&sig=IhzqkjCmLc6R7SrB7knfb900YKc#v=onepage&q=a%20defini%C3%A7%C3%A3o%20freudiana%20de%20psican%C3%A1lise&f=false

 
 
 

Comments


bottom of page